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  • Textos de Américo de Sousa

    26.9.11

    OS GÉNEROS RETÓRICOS E A MEDIATIZAÇÃO DO DISCURSO POLÍTICO

    Comunicação apresentada ao I Congreso Internacional de Retórica Política
    Organizado pelo Instituto CEU de Humanidades Ángel Ayala, Universidade CEU San Pablo
    Sala de Actos del Colégio Mayor Universitário CEU San Pablo, Madrid, em 21 Jan 2011

    Os géneros retóricos e a mediatização do discurso político

    The rhetoric genres and the mediatization of political speech

    Américo de Sousa *


    Resumo:

    A divisão aristotélica da retórica em três géneros ostenta uma surpreendente longevidade, tendo em conta que foi elaborada em circunstâncias históricas, sociais, políticas e comunicacionais, muito distintas das que viriam a marcar os vinte e cinco séculos a que sobreviveu. São conhecidas as falhas ou insuficiências que lhe detectam autores tão prestigiados como Quintiliano, Perelman, Meyer e Reboul, mas, ainda assim, continua a ser acolhida pelos estudos retóricos, praticamente, sem reservas. Disso se ressente a retórica política que Aristóteles associa ao género deliberativo, mas a que também não será estranho o género epidíctico. O duplo objectivo deste estudo é o de, por um lado, submeter a teoria dos géneros retóricos a um escrutínio analítico que permita avaliar a pertinência intra-sistemática dos seus elementos estruturais, e por outro, o de testar a hipótese de as novas condições de exercício da comunicação e, em especial, a mediatização do discurso político, levarem à falência teórica dos próprios géneros retóricos.

    Palavras-chave: Retórica - Géneros retóricos - Mediatização - Discurso político

    Abstract:

    The Aristotelian division of rhetoric into three genres boasts an amazing longevity, given that it was prepared on historical circumstances, social, political and communicational, very different from those which mark the twenty-five centuries of survival. Are well known the flaws or deficiencies which were detect by such prestigious authors as Quintilian, Perelman, Meyer and Reboul, but, nevertheless, continues to be upheld by rhetorical studies, virtually without reservation. This affects the current theoretical understanding of political rethoric, which Aristotle associated to the deliberative genre, but that can also be associated to the epideictic genre. The double objective of this study is to, first, to refer the theory of rhetorical genres an analytical scrutiny to assess the relevance of their intra-systematic structural elements, and secondly, to test the hypothesis that new conditions of the exercise of communication and, in particular the mediatization of political discourse, lead to the bankruptcy of their own theoretical gender of rhetoric.


    Keywords: Rhetoric - Rhetoric Gender - Media Coverage - Political Speech

    1. A hermenêutica dos géneros retóricos

    Saber se a clássica distinção aristotélica dos três géneros ainda responde às exigências retóricas do nosso tempo é o recorrente desafio que a moderna e crescente mediatização dos discursos persuasivos nos põe pela frente. E a melhor forma de lhe responder ainda será a de, partindo das próprias palavras com que Aristóteles explica as três espécies de retórica, nelas ou por elas começar por descobrir as opções taxonómicas que nem sempre explicitou. Recordemos, por isso, que para o velho filósofo, os géneros retóricos são tantos quantas as classes de ouvintes dos discursos: a dos espectadores que se pronunciam sobre o presente, a dos juízes que se pronunciam sobre o futuro e a dos juízes que se pronunciam sobre o passado. [1]

    A temporalidade como marca distintiva

    Temos assim um primeiro critério de distinção que leva Aristóteles a autonomizar os respectivos géneros em função da específica temporalidade para que remetem: futuro, passado ou presente. Como diz Michel Meyer, a retórica ocupa-se daquilo que é mas que podia ser diferente. Logo, “o papel do tempo é capital porque cria alternativas: (…) Existe pois aquilo que podia ter sido diferente: é o passado que define o acto judiciário. Existe aquilo que poderia ser diferente agora. Regressamos ao género epidíctico: aprovamos ou desaprovamos, ' gostamos' ou ' não gostamos' . Finalmente existe aquilo que poderia ser diferente nofuturo: é a acção política, tomar a decisão mais útil para as pessoas ou para o país. E temos o género deliberativo” [2]. É certo que Tomás Albaladejo, no seu excelente ensaio “Los géneros retóricos: clases de discurso y constituyentes textuales” [3] considera que Aristóteles deu logo um primeiro passo para estabelecer os três géneros retóricos, quando distinguiu entre o ouvinte que decide (juiz ou árbitro) e o ouvinte que não decide (espectador), e que só num segundo passo terá atendido ao tempo em que se situa o objecto da decisão, como critério de distinção entre o ouvinte-árbitro que decide sobre coisas passadas, e o ouvinte-árbitro que decide sobre coisas futuras. Mas a interpretação suscita algumas objecções. Por um lado, porque o dito primeiro passo é mais aplicável à distinção entre dois tipos de ouvintes (os que decidem e os que não decidem) do que à classificação dos três géneros retóricos, que assim permaneceriam por caracterizar. Além de que são três e não dois os tipos de ouvintes retóricos. Como sustenta António Fidalgo: “há três tipos de discurso porque há três tipos de ouvintes ou de auditório” [4]. Segunda objecção: porque não tem em conta o tempo (presente) em que já nessa primeira distinção se inscreve o ouvinte que não decide (espectador) e a que expressamente se refere Aristóteles quando assinala os tempos de cada um dos géneros: “para o que delibera, o futuro, pois aconselha sobre eventos futuros (…); para o que julga, o passado, pois é sempre sobre actos acontecidos que um acusa e outro defende; para o género epidíctico o tempo principal é o presente (…). [5] O que, só por si, já afasta a ideia de que apenas num segundo passo tenha atendido ao tempo em que se situa o objecto da decisão e que, ainda por cima, o tenha feito exclusivamente em relação ao ouvinte-juiz; por último, note-se que Aristóteles começa logo por estabelecer que as espécies de retórica são três em número “pois outras tantas são as classes de ouvintes dos discursos” [6] e só depois se refere à distinção entre espectador e juiz, deixando claro que este último se pronuncia necessariamente ou sobre o passado ou sobre o futuro. Ou seja: não é por distinguir entre ouvintes que decidem e ouvintes que não decidem que Aristóteles chega à formulação dos três géneros retóricos. Bem pelo contrário, é somente depois de declarar que as espécies de retórica são três “pois outras tantas são as classes de ouvintes”, que adianta a respectiva justificação: “é necessário que o ouvinte ou seja espectador ou juiz, e que um juiz se pronuncie ou sobre o passado ou sobre o futuro” [7]. Daí que distinguir entre ouvintes que decidem e ouvintes que não decidem[8] possa ser visto como um primeiro passo para estabelecer duas grandes espécies de retórica, mas fica ainda a meio do caminho para explicar a formulação da tríade genérica. Mais apropriado será, por isso, destacar a temporalidade como primeiro e, porventura, mais essencial critério de distinção dos géneros retóricos aristotélicos. No que não andaremos aqui longe da posição de Tomás Albaladejo, quando cita Aristóteles para reconhecer a dimensão temporal como marca distintiva dos três tipos de ouvintes: “há o que julga acerca de coisas futuras, como membro da assembleia; e há o que julga a propósito de coisas passadas, como juiz; outro há que julga o talento [do orador], o espectador (…)” [9]. De onde ressalta não só a importância mas também a prioridade de que se reveste a caracterização dos ouvintes em função do tempo, quando se trata de fixar cada um dos três géneros retóricos em deliberativo, judicial e epidítico. Umsegundo critério a que Aristóteles igualmente recorre na classificação dos géneros é o do valor ou fim em vista, bem presente nesta passagem do seu tratado: “cada um destes géneros tem um fim diferente e, como são três os géneros, três são também os fins” [10]. Que fins ou valores? O útil ou o inútil, para os que deliberam; o justo ou injusto, para os que julgam; e o belo ou o feio, para os que elogiam ou censuram. Mas bem vistas as coisas, este segundo critério surge já intimamente ligado a um terceiro, ainda mais determinante e que é o da principal função lógico-argumentativa que cada género põe em marcha - deliberar, julgar ou elogiar [11] -, conforme se trate, respectivamente, do género deliberativo, do género judicial ou do género epidíctico.

    O género deliberativo e o discurso político

    Até aqui tudo parecerá relativamente claro e consensual. O que não será tão consensual quanto isso, é o tipo de vínculo teórico que Aristóteles estabelece entre a assembleia e o género deliberativo, ou entre o tribunal e o género judicial. Tomemos por referência o discurso que aqui mais nos interessa, o discursopolítico, e interroguemo-nos quanto à natureza da sua sistemática associação ao género deliberativo: quererá Aristóteles com isso sustentar que são discursos deliberativos apenas os que ocorram na assembleia política? Ou que todo e qualquer discurso persuasivo passa a discurso deliberativo a partir do momento em que é proferido numa assembleia? Pode, afinal, qualquer discurso integrar o género deliberativo, desde que ocorra num certo lugar ou no âmbito de uma particular actividade? Perguntas que ganham ainda mais sentido quando Tomás Albaladejo [12] muito acertadamente adverte que não se deve identificar o discurso político com o género deliberativo, pois há discursos políticos que não pertencem ao género deliberativo, e este, por sua vez, abrange igualmente discursos não políticos, como é o caso dos discursos académicos ou sociais. A resposta poderá então passar pela formulação de uma hipótese, neste caso, a hipótese de que a associação dos géneros a um dado tempo (passado, presente, futuro), a um determinado valor ou fim (útil, justo, belo) e a uma específica função lógico-argumentativa (deliberar, julgar, elogiar) é de natureza vincadamente taxativa. Isto é: tempo, valor ou fim e função lógico-argumentativa, são os três critérios que se mostram estruturalmente indissociáveis da própria classificação dos géneros.Mas já a associação à assembleia e ao tribunal ocorrerá apenas a título meramente ilustrativo, como o demonstra Aristóteles quando, ao descrever os géneros de retórica, a certo passo, afirma: “O que se pronuncia sobre o futuro é, por exemplo, um membro de uma assembleia” [13]. “Por exemplo”, diz o grande filósofo, dessa forma admitindo que nem só os membros da assembleia se pudessem pronunciar sobre o futuro. Mas Aristóteles diz mais. Diz, por exemplo, que todas as pessoas de alguma maneira participam da Retórica. Logo, independentemente da instituição, do lugar ou da actividade em que o façam. Numa palavra, todos deliberam e todos julgam. Deliberar não é, afinal, mais do que resolver ou decidir mediante exame ou discussão prévia, e julgar é, fundamentalmente, decidir como juiz ou árbitro. Delibera-se na política mas também na vida empresarial e pessoal. Julga-se no tribunal, no escritório ou na escola. Há até quem se julgue a si próprio. Deliberar e julgar, em suma, não são acções ou procedimentos intrínsecos ao domínio político e judicial, muito menos exclusivos. Daí que, “a melhor interpretação do que terá levado Aristóteles a associar (mais do que a identificar) o discurso deliberativo à assembleia política, e o judicial ao tribunal, é a de que não pode deixar de ter sido uma intenção essencialmente ilustrativa, um exemplo, entre outros igualmente possíveis, ao tempo, da função que predominantemente caberia aos membros de qualquer desses dois tipos de auditório: deliberar ou julgar” [14]. Do mesmo modo se dirá que nada permite inferir que Aristóteles estabeleça a divisão do discurso retórico em deliberativo, judicial e epidíctico com base imperativa no assunto a tratar ou no tipo de actividade em questão ou, menos ainda, no concreto auditório onde tenha lugar. O que da sua definição dos géneros transparece é que os concebe segundo a particular função lógico-argumentativa que a cada um cabe: deliberar, julgar, elogiar [15]. E é a singularidade de cada uma destas três funções lógico-argumentativas (relativas a outras tantas classes de ouvintes) que faz com que os géneros tenham que ser em igual número. Logo, de um ponto de vista rigoroso, não se pode defender que um discurso é deliberativo por ter lugar numa assembleia política, nem que se transforma em discurso judicial se for proferido no tribunal.

    O que define cada género retórico

    O que define cada género retórico aristotélico é, sobretudo, o tempo a que se dirige, o valor ou fim que persegue e a função lógico-argumentativa que nele se exerce. Temos assim, e pela mesma ordem: no epidíctico - o presente, o belo [16] e o elogiar [17] ; no judicial - o passado, o justo [18] e o julgar [19]; e no deliberativo - o futuro, o útil [20] e o deliberar [21]. Mas se houvesse que destacar o critério dos critérios, o critério-chave, isto é, o critério que mais decisivamente delimita a tríptica distinção e que, nessa medida, logo condiciona todos os outros, esse critério só poderia ser o do tempo para que se dirige o discurso, o tempo do objecto da decisão. E se não, atente-se na já referida circunstância de Aristóteles ter começado por distribuir os ouvintes por três classes, em conformidade com o tempo para que remete o seu objecto de decisão – presente, passado ou futuro – e como isso parece sugerir que os outros dois critérios de classificação taxativos a que Aristóteles explícita e sistematicamente alude (o valor ou fim em vista e a função lógico argumentativa) funcionarão mais por inerência da referida temporalidade do objecto de decisão, do que propriamente pela sua influência na formatação do respectivo género, pois não se acusa alguém de um acto que ainda não cometeu, nem se delibera sobre o que tendo já ocorrido, nenhuma alteração consentiria. Parece por isso que a melhor interpretação dos géneros retóricos aristotélicos vai no sentido de os reportar às mais diversas situações de vida, actividades ou lugares, na esfera pública ou no domínio privado, pelo que é também nesse entendimento que aqui são analisados.

    2. Para uma crítica da classificação aristotélica

    Cumprida a tarefa hermenêutica de afinar a compreensão dos géneros retóricos aristotélicos, tal como chegaram até nós, cumpre passar agora a uma breve apreciação crítica. E a primeira coisa a destacar é sem dúvida a sua impressionante consistência teórico-sistemática. Porque Aristóteles não só distingue três espécies de retórica e procede à sua autónoma caracterização, como lhes confere um lugar próprio no sistema retórico que viria a servir de “modelo para os mais ambiciosos e complexos manuais de retórica que foram surgindo ao longo do período helenístico e da época imperial” [22]. Sistema retórico que, diga-se, é aqui linearmente entendido como disposição estrutural e interligada dos princípios técnicos que mais eficazmente concorrem para o desempenho da função de persuadir. Ora no sistema retórico aristotélico e em especial na configuração estrutural dos géneros, tudo parece estar no seu lugar. Sobressai a disposição triádica: três são os ouvintes, três são os géneros, como três são os diferentes elementos que caracterizam cada género: tempo, valor e função lógico-argumentativa. É possível que a consistência analítico-formal desta classificação aristotélica dos géneros tenha estado na base da sua perenidade teórica, como também se pode admitir que num mundo em que subsistiam ainda as mais tradicionais formas de comunicação, as lacunas ou insuficiências do modelo aristotélico fossem teoricamente mais suportáveis ou até menos valorizadas. Mas nesta era da mediatização de todos os discursos e, desde logo, do discurso político, não é mais possível permanecer seduzido apenas pela perfeição formal dos ditos géneros, para que muito concorre a já referida disposição triádica. Torna-se, por isso, necessário revisitá-los criticamente, avaliar da sua adequação (ou não) às novas realidades da retórica mediatizada, cujas principais manifestações ocorrem hoje no discurso jornalístico e no discurso publicitário, mas também, e cada vez mais, no discurso político.

    O rígido artificialismo do modelo aristotélico

    Importa, contudo, reconhecer que a teoria aristotélica dos géneros retóricos era já questionável, muito antes da explosão tecnológica e mediática a que vimos assistindo. Um questionamento que poderia começar, desde logo, pela rigidez e pelo artificialismo do próprio modelo e dos seus elementos constituintes que, embora não levantem qualquer dificuldade ao nível ideal, fatalmente esbarram na dinâmica e na vivacidade própria dos discursos concretos. Ora, como muito bem observa Tomás Albaladejo, a teoria aristotélica dos géneros consiste justamente numa explicação a partir do discurso concreto, ou seja, “do facto retórico pois nem de outro modo poderia entender-se que as características do ouvinte sejam determinantes das peculariedades do discurso que aquele recebe e interpreta” [23]. Uma explicação que, acrescente-se, parte do discurso concreto mas para o discurso concreto igualmente se dirige, pois só nele se decide a sua eficácia ou utilidade. O problema é que, na prática, não há géneros puros. E não há géneros puros, porque como refere Aron Kibédi-Varga [24], os géneros retóricos são mais propriamente situações comunicativas do que categorias textuais. Ficam, por isso, sempre subordinados ao próprio contexto situacional, bem como às adaptações que o orador entenda fazer, seja por razões de oportunidade (kairos), seja por factores imprevistos ou pelo desenvolvimento da própria interacção dos intervenientes. Os géneros não são puros, também, porque é impossível espartilhar a razão discursiva, obliterar esta ou aquela dimensão temporal do objecto da decisão, ou considerar apenas o valor ou fim associado ao respectivo género, ou ainda, aconselhar ou dissuadir mas já não acusar ou defender. E não sendo puros, os géneros acabam por se sobrepor, misturar e, até mesmo, confundir. Resultado caricato: devendo o seu conceito a um momento teórico inicial de divisão, os géneros acabam, na prática, por permanecer na unidade retórico-discursiva de origem. O que quer dizer que, verdadeiramente, nunca chegam a passar do papel à prática. E esse seria o seu primeiro sinal de falência teórica.

    A teoria dos componentes genéricos

    Talvez, por isso, Tomás Albaladejo apresenta-nos uma realística proposta de interpretação dos ditos géneros. Chamo-lhe realística porque visa, sem dúvida, superar ou contornar a dificuldade prática que acabei de referir. Na sua proposta, Tomás Albaladejo dá como certo que nenhum discurso concreto se relaciona somente com um dos três géneros retóricos, pelo que introduz o conceito de componente genérico, distinto do género retórico mas a ele vinculado, em ordem a melhor explicar as diferentes regularidades estruturais de cada discurso retórico. Haveria então um componente genérico judicial, um componente genérico deliberativo e um componente genérico epidíctico. Como em geral todos os discursos retóricos têm mais de um componente genérico como constituinte textual, a designação do respectivo género de cada discurso seria a do componente genérico central ou dominante. Na voz de Tomás Albaladejo, “Pode entender-se que existe um discurso retórico como categoria em que estão incluídos, como constituintes textuais, os três componentes genéricos, um dos quais é o componente que domina o conjunto e é, por isso, o que centra o discurso num género retórico determinado, o que não impede que o discurso funcione também nos outros géneros” [25]. Mas a proposta deste ilustre autor suscitará algumas reservas. Antes de mais, porque dá a sensação de que multiplica por três as dificuldades já mencionadas a propósito de cada género. Quero com isto dizer que não só se mantém a já enunciada crítica ao artificialismo e à rigidez dos géneros retóricos aristotélicos, como se torna agora extensiva aos dois componentes genéricos não dominantes. Depois, porque não estando garantido que um discurso retórico tenha obrigatoriamente um componente genérico dominante, a proposta não contempla a possibilidade de serem dois ou até mesmo três os componentes a partilhar o domínio em proporção semelhante, caso em que teríamos componentes genéricos de um género inexistente ou por definir. Finalmente, os componentes genéricos que são sugeridos, são-no apenas enquanto constituintes textuais, o que de alguma forma parece contraditar a já acolhida noção de géneros retóricos de Aron Kibédi-Varga, que os vê mais como situações comunicativas do que como categorias textuais.

    O fim próprio de cada género

    Uma segunda dificuldade que a classificação dos géneros aristotélicos nos coloca, deriva da ambiguidade ou dos pressupostos inverificáveis para que remetem os seus principais elementos estruturais. Considerar, por exemplo, que o útil é o fim próprio do género deliberativo, assim como o justo o é do género judicial e o belo do género epidíctico, implicita a crença de que, em qualquer dos três casos, se trata de fins ou valores inteiramente distintos, tão distintos que podem ser olhados como características identitárias do próprio género a que pertencem. Mas será mesmo assim? Não haverá situações várias em que o que está em questão participa simultaneamente de mais de que de um desses valores, por exemplo do útil e do belo, ou do belo e do justo, e em alguns casos, até, um dos valores só é realizável na presença (ou produção) do outro? Não poderá a conduta ou decisão de alguém ser, em certos casos, simultaneamente avaliada como útil, justa e bela? Se sim, em que género de retórica nos encontraríamos? Talvez, por isso, se possa considerar que a hipótese da falência teórica dos próprios géneros retóricos é uma hipótese tardia, pois não teria sido necessário esperar pela era da mediatização dos discursos para justificadamente a formular. Principalmente se levarmos em conta o que já no seu tempo Quintiliano deles pensava e dizia:

    “Não sou da opinião daqueles que, por uma divisão demasiado cómoda, mas mais especiosa que verdadeira, circuns­creveram o género demonstrativo [= epidíctico] às questões que têm importância para a moral, o deliberativo às que dizem respeito à utilidade e o judiciário às que se relacionam com a justiça. Estes três géneros, pelo contrário, apoiam-se mutua­mente. Com efeito, não tratamos num elogio do que é justo e útil? não tocamos, numa deliberação, em questões de moral? e não existe sempre algo de tudo isto num discurso judicial?” [26].

    De certo modo, é este pensamento de Quintiliano que a produção retórica contemporânea retoma quando Michel Meyer parte do valor ou fim perseguido por cada género retórico, para denegar a própria classificação aristotélica. Também para Meyer é inevitável “que o útil, o justo e o agradável ou o verosímil, ou ainda o honroso da apelação epidíctica se misturem em qualquer relação retórica, qualquer que possa ser o seu aspecto dominante: o sujeito que se apresenta, o interlo­cutor que toma a decisão, ou o discurso onde convergem o pra­zer estético e a verosimilhança [27]. E isso, por si só, elimina à partida qualquer possibilidade do valor ou fim em vista poder funcionar como critério classificativo das diferentes espécies de retórica.

    A proposta de Meyer

    Meyer, porém, não se limita a negar a função taxonómica dos valores ou fins para que cada um dos géneros se dirige. Ele põe em causa a própria classificação aristotélica dos géneros, que abertamente rotula de arbitrária e, sobretudo, considera-a assente na obsessão ontológica de que dizer, é dizer o que é[28]. Porque, explica, “se deixarmos de pensar o discurso e a razão a partir da questão do ser, não é só a oposição da retórica e da poética que deixará de fazer sentido, mas também a classificação dos géneros, os quais, todos eles, fazem apelo à possibilidade do ' não ser' segundo as três modalidades possíveis que a temporalidade define” [29]. Haverá por isso que reconhecer em cada questão retórica uma racionalidade interrogativa que, segundo Meyer, se mede pela maior ou menor problematicidade da própria questão. “Quanto mais uma questão ou uma causa é certa, menos se impõe decidir (…). Por contraste, quanto mais duvidosa uma questão é, mais precisamos de deliberar e menos o outro é depositário da decisão” [30]. Os três géneros retóricos aristotélicos corresponderão, por isso, e não mais do que isso, a três diferentes níveis de variação problemática, dependendo estes últimos dos meios de resolução disponíveis. Será então maior a problematicidade do género deliberativo, onde, “a priori, ninguém é depositário do juízo resolutório” [31] (excepto por uma autoridade natural ou institucional). Já no género judicial, a problematicidade é menos acentuada “porque há regras de juízo, entre outras coisas fornecidas pelo direito” [32]. Por último, no género epidíctico, a problematicidade é praticamente inexistente “pois a resposta está lá, oferecida à disposição” [33]. Definindo a retórica como “negociação da distância entre os homens a propósito de uma questão, de um problema” [34], cujo processo de interrogatividade em contínuo visa encontrar a resposta mais adequada entre todas as possíveis ou até a criação de uma nova - e não apenas admitir ou pôr à prova uma tese provável para toda a gente, para a maioria ou para os sábios -, Meyer apresenta uma proposta alternativa à da distinção aristotélica de género que permita preservar o que dá o ser à retórica, a problematicidade que a convoca, a interrogatividade que a põe em marcha - coisa que os géneros retóricos, segundo Meyer, de nenhum modo podem asssegurar. A proposta acolhe essencialmente três pressupostos:

    1) A proposição não é a unidade, muito menos a medida do pensamento.

    2) O que no discurso se presta à contraditoriedade ou à univocidade, é o problema ou questão.

    3) A retórica, dada a sua interrogatividade em contínuo, não se deixa apanhar de forma fraccionada (desde logo, nos géneros).

    E é precisamente por considerar que todo o processo retórico se traduz num contínuo de interrogatividade, que Meyer propõe uma nova sistematização com base em três distintas operações ou momentos: afactualização, a qualificação e a legitimação. Um primeiro momento, o da factualização, que incide sobre o que está em questão. É quando nos interrogamos se este ou aquele facto se produziu, se esta ou aquela questão é verídica ou corresponde à realidade. Como no caso do exemplo pouco simpático mas muito eficaz que Meyer nos dá: o aparecimento de um morto. Esse é o momento da factualização. Ou seja, interrogamo-nos se o morto está, de facto, morto. O morto é o facto. Já num segundo momento, o daqualificação, não é o facto que vai estar em causa, mas sim o que ele significa ou pode significar. O morto (o facto), está evidentemente morto. A questão agora é bem outra: é a de saber se se trata de assassínio ou acidente. E por último, no terceiro momento, temos a legitimação. Como a própria designação já sugere, é o momento de averiguar se quem apresenta a questão tem ou não o direito (ou a competência) de o fazer, que razões pode para o efeito invocar e se o faz ao abrigo de normas argumentativas de comum acordo que serão, portanto, válidas para nós. São estas três grandes articula­ções interrogativas do discurso retórico – factualização, qualificação e legitimação - que não só actualizam a analítica da retórica clássica e presencial, como podem favorecer uma melhor aproximação teórica à retórica contemporânea e virtual, onde o recurso aos mais sofisticados meios, a novas tecnologias e sistemas de comunicação electrónica e digital, faz com que, a mediatização dos discursos possa, a breve trecho, vir a remeter os géneros aristotélicos para o estatuto de meros testemunhos arqueológicos do saber retórico.

    3. Os géneros e a mediatização do discurso político

    No caso da mediatização do discurso político, a televisão, ainda que replicada pela internet e pelos gadgetsque estão mais na moda, continua a ser o meio de comunicação dominante, a avaliar pelo espectáculo continuado a que diariamente se assiste no pequeno ecrã. Com notável espírito de síntese, Mário Mesquita chama-lhe “espectáculo permanente servido ao domicílio” [35].

    O império da tele-retórica

    Seja à custa das notícias e do comentário político, das entrevistas aos senhores deputados, aos senhores ministros e aos mais altos representantes da nação, das reportagens em directo e indirectas, das inaugurações do governo ou das autarquias, das conferências de imprensa, dos debates políticos ou dos congressos partidários de vários dias, seguidos ad nauseam pelos canais noticiosos, a retórica política é hoje essencialmente mediatizada, em primeiríssma linha pela televisão. Nunca foi, por isso, tão próprio falar de actores políticos. Pode um actor profissional singrar sem se dedicar à política, mas já um político não irá longe se não investir na arte de representar. Porque mais dia menos dia, terá de subir ao palco e mostrar a sua habilidade: convencer quem o escuta, persuadir quem o vê. E não existe melhor palco do que o palco da televisão. Espera-o a glória da visibilidade máxima, o contacto “directo” e imediato com os eleitores e, dependendo das opções do realizador em matéria de grandes planos ou planos aproximados, a possibilidade de falar para todos, parecendo que fala apenas para cada um. A expressão “falar olhos nos olhos” passa, assim, de virtuosa a virtual. O político pode ter à sua frente um auditório muito composto, uma sala cheia, um pavilhão a abarrotar de gente. Mas é para a audiência que fala. Porque por maior que seja um auditório, ele é sempre limitado pela sua natureza concreta e particular. Já a audiência mostra-se potencialmente ilimitada e universal. Falar para um auditório é falar para alguns; falar para uma audiência é falar para todos. Neste sentido, o auditório de um congresso político, por exemplo, pode mesmo ser visto como parte integrante do acontecimento (o congresso) que é o objecto da mediatização. E aqui é o modelo comunicacional da retórica clássica que é posto em causa, pois essa aproximação entre o orador e o auditório, faz com que este último, para todos os efeitos, passe de receptor a co-emissor, ou mais exactamente, a co-orador, nessa medida concorrendo também para a configuração e para o efeito da própria mensagem que chega à audiência. É o que sucede, por exemplo, quando o auditório se levanta em peso para aplaudir o líder partidário que está no uso da palavra. Dependendo das circunstâncias, isso pode dizer muito ou pouco, mas “diz” por certo tanto ou mais do que disse o discurso aplaudido, ou, pelo menos, adita-lhe um dado significado que o “directo televisivo” imediatamente disponibiliza ao mundo. Mas a televisão, seja pelos famosos (e por vezes, insondáveis) critérios editoriais, seja pela ditadura mercantil que a rege, tem a sua lógica própria, que nem de perto nem de longe coincide com a lógica da coisa política. Dela se pode dizer que transferiu a “impaciência característica do zapping da recepção para a produção, do telecomando para o estúdio, do telespectador para o produtor da emissão, para o realizador do programa, para o editor do telejornal ou para o jornalista-entrevistador” [36]. As sucessivas interpelações do jornalista ao entrevistado, que não lhe deixam a menor possibilidade de acabar um racionínio, são um bom exemplo da drástica gestão do tempo televisivo. Como refere Mário Mesquita, “A televisão antecipa-se ao eventual cansaço do consumidor, silenciando, em tempo (supostamente) útil, o político ou intelectual no uso da palavra” [37]. Silenciando ou interrompendo, dá no mesmo, o jornalista-entrevistador televisivo é por vezes forçado a isso pelos chamados “alinhamentos em aberto” [38], o que pode levar a situações (in)delicadas. Em Portugal, por exemplo, ficou célebre o caso da entrevista que o conhecido político português e ex-primeiro ministro de Portugal, Santana Lopes, estava a dar à SIC-Notícias[39] sobre as eleições no PSD (Partido Social Democrata), quando a referida estação de televisão, de um momento para o outro, interrompeu a entrevista para transmitir em directo a chegada do treinador de futebol José Mourinho ao aeroporto de Lisboa. Mas tão inesperado foi o directo sobre a chegada do treinador de futebol, quanto a reacção do político e interrompido entrevistado. Sentindo-se desrespeitado, levantou-se e abandonou a entrevista, desabafando para quem o quis ouvir: “Acho que está tudo doido. Não vou continuar a entrevista, acho que as pessoas têm de aprender”.

    Os novos géneros

    É neste ambiente de comunicação vertical e fragmentária, quase sempre limitada à frase mais curta, ao mais tosco argumento, ao sound bite, que a retórica política mediatizada é chamada a compreender as actuais condições de exercício da comunicação política e a contribuir com a descoberta e sistematização dos meios de persuasão mais eficazes para cada caso. Impunha-se, por isso, começar por averiguar se os géneros aristotélicos, tão caros à tradição retórica [40], resistiriam aos desafios da actual sofisticação tecnológica e comunicacional. Do que fica dito, e muito particularmente, de alguns dos exemplos avançados, não se vislumbra como podem ainda os géneros retóricos aristotélicos dar conta da mediatização do discurso persuasivo, isto é, de uma praxis retórica radicalmente distinta e em muitos casos, até oposta, à que, por certo, serviu de base à sua originária codificação. Mais apropriada se afigura a proposta de Meyer que, ao contrário da teoria aristotélica dos géneros, não só resiste à mais do que provável sobreposição de géneros, de fins e de funções lógico-argumentativas em cada discurso, como se harmoniza perfeitamente com o facto de na retórica mediatizada, regra geral, já não ser o orador quem detém o controlo da direcção, do sentido e, principalmente, da duração do seu discurso, mas sim o jornalista, o entrevistador ou o realizador do programa. De modo algum, porém, a denegação dos géneros retóricos aristotélicos implica que se elimine a categoria de género na teoria retórica. Pelo contrário, serão mesmo precisos novos géneros que proporcionem uma real aproximação taxonómica e definicional à nova retórica do discurso mediatizado. O que mais propriamente se refuta nos géneros retóricos aristotélicos é o desfasamento actual das regularidades estruturais que os definem. Por que não sugerir, por isso, que se passe a aplicar à categoria de “género” o mesmo critério delimitador, por exemplo, do conceito de “discurso político”? Por que não classificar igualmente o género em função do tema, domínio ou actividade a que respeita? Teríamos assim um género retórico político, um género retórico publicitário, um género retórico jornalístico, um género retórico económico, um género retórico social e todos os outros que se mostrassem igualmente úteis ou necessários, em função do seu específico domínio prático-teórico. Porque precisamente do ponto de vista retórico-comunicacional, já há na mediatização dos discursos, como haveria em cada um desses diferentes géneros, um elemento comum que se sobrepõe a todos os outros pelo carácter inovador, pela exponencial difusão, pela influência multi-direccional, pela persuasividade inerente, pela redefinição semântica que confere à própria mensagem: o meio. Que o diga o discurso político.

    Américo de Sousa

    21.01.2011


    Bibliografia

    Albaladejo Mayordomo, T., “Los géneros retóricos: clases de discurso y constituyentes textuales” in Isabel Paraiso (coord..),Téchne Rhetoriké, Reflexiones actuales sobre la tradición retórica, Valladolid, Universidad de Valladolid, 1999

    Albaladejo Mayordomo, T., “Polifonia y poliacroasis en la oratoria politica. Propuestas para una retorica bajtiniana” in Francisco Cortés Gabaudan, Gregorio Hinojo Andrés y Antonio López Eire (eds), Retorica, Politica e Ideologia. Desde la Antiguedadhasta nuestros dia. Actas del II Congreso Internacional de LOGO, Asociación Española de Estudios sobre Lengua, Pensamiento y Cultura Clásica, Salamanca, 24-29 de noviembre de 1997, Salamanca, Logo, 2000, Vol. III, Ponencias, págs. 11-21

    Aristóteles, Retórica, (2.ª ed.), (M. A. Júnior, P. F. Alberto & A. N. Pena, Trad.), Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2005

    Ruiz de la Cierva, M., “Los géneros retóricos desde sus orígenes hasta la actualidad”, Revista Online Rhêtorikê, disponível em http://www.rhetorike.ubi.pt/00/pdf/carmen-los_generos_retoricos.pdf. Acesso em 04.01.2011

    Mesquita, M., O Quarto Equívoco, O Poder dos Media na Sociedade Contemporânea, Coimbra, Edições MinervaCoimbra, 2004,

    Meyer, M., “As bases da retórica” in Manuel Maria Carrilho (Org.), Retórica e Comunicação, Porto, Edições ASA, 1994

    Meyer, M., Questões de retórica: linguagem, razão e sedução, Lisboa, Edições 70, 1998

    Sousa, A., “ Estatuto Retórico da Publicidade”, comunicação apresentada nas Jornadas de Retórica da UBI, em 11 Janeiro 2007



    [1] Cf. Aristóteles, 2005. p. 104

    [2] Michel Meyer, 1998, pp. 31-32

    [3] Albaladejo Mayordomo, 1999, pp. 55-64

    [4] Palestra proferida na Unisinos em 22 de Novembro de 2004, aquando da comemoração dos 10 anos do PPG e em Ciências da Comunicação.

    [5] Aristóteles, 2005, p. 104

    [6] Aristóteles, 2005, p. 104

    [7] Aristóteles, 2005, p. 104

    [8] Ou, na tradução portuguesa, entre ouvintes que se pronunciam e ouvintes que não se pronunciam, cf. Aristóteles, 2005, p. 104

    [9] Albaladejo Mayordomo, 1999, pp. 55-64

    [10] Aristóteles, 2005, p. 105

    [11] Ou censurar

    [12] Albaladejo Mayordomo, 2000, pp. 11-21

    [13] Aristóteles, 2005, p. 104

    [14] Sousa, 2007

    [15] Ou censurar

    [16] Ou o feio

    [17] Ou censurar

    [18] Ou injusto

    [19] Acusar ou defender

    [20] Ou o inútil

    [21] Aconselhar ou dissuadir

    [22] Alexandre Júnior in Aristóteles, 2005, p. 51

    [23] Albaladejo Mayormo, 1999, pp 55-64

    [24] Citado por Albaladejo Mayordomo, 1999, pp. 55-64

    [25] Albaladejo Mayordomo, 1999, pp. 55-64

    [26] Citado por Meyer, 1994, p. 50

    [27] Meyer, 1994, p. 50

    [28] Meyer, 1998, p. 32

    [29] Meyer, 1998, p. 32

    [30] Meyer, 1998, p. 34

    [31] Meyer, 1998, p. 34

    [32] Meyer, 1998, p. 34

    [33] Meyer, 1998, p. 35

    [34] Meyer, 1994, p. 42

    [35] Mesquita, 2004, p. 90

    [36] Mesquita, 2004, p. 90

    [37] Mesquita, 2004, p. 91

    [38] Programação sujeita a alterações de última hora

    [39] Entrevista a Santana Lopes na SIC - Notícias, 26 Setembro 2007

    [40] Como o evidencia o muito informativo ensaio de Maria del Carmen Ruiz de la Cierva, “Los géneros retóricos desde sus orígenes hasta la actualidad”

    * Mestre em Ciências da Comunicação, Investigador no LabCom da Universidade da Beira Interior, Covilhã, Portugal, e Professor de Retórica na Universidade Lusófona do Porto, Portugal.